Leituras BD 8

A secção Leituras regressa com duas breves apreciações, de José Bandeira e Susana Resende, respectivamente ao autor Ersin Karabulut e ao webcomic Blue Night.

Um autor a descobrir. Ersin Karabulut é um renomado cartoonista turco e figura do protesto de Esquerda, por meio da revista satírica Uykusuz. O que fascina nos seus álbuns é a abertura que nos dá sobre uma sociedade, tão longe e tão próxima, que muitos ocidentais não querem na União Europeia, devido aos tiques autoritários dos seus dirigentes.
Ao triturar esses contos satíricos, reconhecemos esse quotidiano imerso num vício tecnológico de gadgets em que imaginamos a Turquia, ou seja, o que pode haver de mais moderno nas sociedades muçulmanas orientais. A variedade de histórias é impressionante. Sombrio e poético quando fala das miragens que o Ocidente oferece aos migrantes, que nem sempre se deixam enganar pela aculturação que os espera.

O webcomic Blue Night, Ronde of Ecstacy é criado por Hochi e Yanna, e ilustrado por Haedok. Descobri esta série manhwa por casualidade, ao procurar plataformas online para ler webcomics. Trata-se de um webcomic em continuação, estreado no final de 2022, no género romance gótico, que conta a história de Kang Seoyoon, uma rapariga que adormece num recital de piano e acorda para uma realidade sobrenatural, povoada por monstros descendentes da mítica Lilith, onde o pianista, Ahn Heewon, lidera uma seita de criaturas que na Terra conhecemos como incubus, e se alimenta do êxtase dos humanos. Para ensinar o seu protegido, Alex, um jovem vampiro, Ahn força Kang a acompanhar Alex, para ensiná-lo a alimentar-se de pessoas, mas sem as matar. Kang vê-se, assim, no meio de um conflito entre várias facções de criaturas, numa narrativa parecida à saga Twilight e Uma Entrevista com o Vampiro.
Graficamente o manhwa está muito competente, com boas transições narrativas e um conceito algo gótico, adequado ao teor da história. Este esquema narrativo interessou-me por simplificar as regras da sequencialidade em BD, pelo simples facto da leitura ser vertical e contínua. Ou seja, esta simplificação descarta a lógica dos cliffhangers no virar de página, substituindo-os pela distância entre scrolls e, por vezes, pela mudança do ângulo de leitura. E ao impedir que o leitor tenha uma noção global da página, a própria natureza do scroll facilita a manipulação das percepções do leitor, em momentos de tensão etc, sendo as cenas que situam a acção ou cenas mais dinâmicas ajudadas pela mudança das imagens de leitura vertical para horizontal.
Este é apenas uma das centenas de excelentes webcomics semanais que os leitores podem descobrir online, no CoffeeManga.