2021-12-30

Tágide: Publicações de 2021

Em 2021, parte das actividades editoriais anunciadas na previsão do Central Comics ficaram por se concretizar, embora tal seja compreensível dado o panorama pandémico que ainda subsiste. Felizmente, o Tágide não deixou de marcar presença no sector e vários autores que integram o grupo lançaram-se a solo, em edições que foram igualmente marcantes no mercado. Perspetivando um melhor ano 2022 para a banda desenhada portuguesa, fazemos agora um novo resumo de edições alusivas ao Tágide no ano que agora termina…

No 1º trimestre, fizemos menção à edição norte-americana Biff! Bam! Eee-Vow! onde o autor Pedro Cruz participou com várias ilustrações, que havia sido lançada no final de 2020, mas o ano começou mesmo com o lançamento do Outras Bandas #4, com capa de Yves Darbos, onde participaram vários autores do Tágide que ainda não havia colaborado no fanzine. Foi uma agradável surpresa ver a edição nomeada para Melhor Antologia Nacional no 3º Prémio Bandas Desenhadas, assim como a BD da Susana Resende, “Menino Perdido”, considerada para Melhor BD Curta em Antologia.


O 2º trimestre começou auspicioso com a estreia a solo da Patrícia Costa em Crónicas de Enerelis: Volume 01 – Prelúdio, que foi complementado com o fanzine exclusivo Crónicas de Enerelis: Volume 02 – Sangue [Introdução e Capítulo 8], os quais iniciaram esta colecção auto-editada através de apoio por financiamento público. Embora não tenha sido viável realizar uma cerimónia de lançamento, a autora preparou uma exposição em parceria com a Câmara Municipal do Montijo, “Enerelis: A Criação de um Novo Mundo”, a qual ficou patente na Casa Mora - Museu Municipal de Montijo, e que pôde ser apreciada também em catálogo.
Seguiram-se um novo baralho de cartas ilustrado da Apenas Livros, Cartas na Mão, Diabo no Coração, cujo grafismo foi da autoria de Susana Resende. A autora foi igualmente convidada a ilustrar uma história d’Os Contos mais Épicos de Conan, de Robert E. Howard, pela editora Saída de Emergência, no qual também participa o autor Daniel Maia. Os desenhos desta antologia estiveram patentes nos auditórios das Fnac, em Lisboa/Chiado, Porto, Coimbra e Faro.



Passado o verão, o 3º trimestre trouxe consigo o desconfinamento e o primeiro grande evento de banda desenhada no país em dezasseis meses, o 16º Festival Internacional BD de Beja. Ali, o colectivo lançou o Outras Bandas #5: Heróis Portugueses, que reuniu desenhos desta iniciativa de homenagem às criações bedéfilas portuguesas, realizada desde meados do ano anterior.

Com as comportas do sector abertas, a rentreé trouxe um turbilhão de novidades editoriais, entre as quais esteve o lançamento no Fórum Fantástico da antologia H-Alt #10, coordenada por Sérgio Santos, com trabalho deste e de Pedro Cruz, que ali concluiu a sua série “O Jogo de Nil”; e de Crónicas de Enerelis: Volume 02 – Sangue, novamente assinado e auto-editado pela Patrícia Costa, mais o correspondente fanzine de antevisão ao álbum seguinte, Crónicas de Enerelis: Volume 03 – Sombras [Introdução e Capítulo 15].
Depois, dá-se a estreia editorial de Mário André, com a novela gráfica A Implosão, que este adaptou do romance homónimo de Nuno Júdice e auto-editou. Setembro viu ainda o regresso de Susana Resende à ilustração de baralhos de cartas, com Provérbios de Animais, da Apenas Livros. O artigo, que conta com 55 desenhos originais da autora, foi mais tarde apresentado no 15º Colóquio Interdisciplinar de Paremiologia, em Tavira, onde foi antecipada a publicação do livro ilustrado do mesmo nome.


Por fim, o 4º trimestre ficou marcado por três eventos do sector: o 32º Amadora BD, o 7º Comic Con Portugal e o 1º Mercado de BD e Ilustração no Museu Bordalo Pinheiro. Os autores do Tágide tiraram proveito das oportunidades e fizeram várias apresentações no primeiro festival, assim como a primeira sessão de autógrafos conjunta desde 2019, e também lançaram o Outras Bandas #6, com capa de João Raz e com participação de quase todos os membros do colectivo. De seguida, houve ainda tempo para Patrícia Costa lançar um conjunto de impressões exclusivas, Enerelis: Print Portfólio – Volumes 01+02, e de Nuno Dias se estrear a solo, com Skratchbook vol.1, um fanzine/caderno de esboços lançado no CCPT.


Paralelamente, temos ainda a celebrar a vitória de José Bandeira no Concurso de BD do 15º BDteca: Salão de Banda Desenhada de Odemira, onde alcançou o 1º prémio, e também a menção honrosa atribuída a Mário André. Bem como a nomeação de Outras Bandas em Melhor Publicação Independente no (tardio) 18º Troféus Central Comics, que também viu nomeada a BD de Daniel Maia, com argumento de Marco Fraga Silva, na categoria Melhor Obra Curta, a qual obteve o 2º lugar na votação.


Muitos mais projectos ficaram por publicar, pelo que prevemos um ano 2022 em cheio. Sigam o blogue para estar a par das novidades e, desde já, um Bom Ano de 2022!

2021-12-22

Boas Festas!

O colectivo informal Tágide deseja um Feliz Natal e Boas Festas a todos!
Que o Pai Natal vos traga algo com muitas páginas e aos quadradinhos...





2021-12-21

Previsão editorial de BD para 2022

Tal como aconteceu em Dezembro do ano passado, o portal Central Comics publicou um novo artigo de antevisões de BD a lançar em2022. Os destaque cobrem quase uma vintena de projectos, sendo a maioria obras autorais mas incluindo também antologias, os quais se encontram em diversas fases de produção e sendo as datas de lançamento indicadas quando possível.
Entre os autores indicados vamos encontrar vários nomes conhecidos do público e também artistas associados ao Tágide; nomeadamente
Sérgio Santos, que publicará AS-1000 e duas novas antologias H-Alt, Patrícia Costa que regressa ao mundo de Enerelis com o 3º volume, Sombras; Mário André que irá estrear a colecção Quaresma, o Decifrador, adaptando romances policiais de Fernando Pessoa; os irmãos Gandum vão publicar o Congo 3; e Daniel Maia que reedita O Infante Portugal em Universos Reunidos e também Mala-Posta.


Obviamente, muitos mais colegas do Tágide têm presentemente projectos em curso, simplesmente ainda não chegou a hora de os anunciar – por vezes,
o segredo é a alma do negócio…!

Resta-nos aguardar que 2022 se revele um ano melhor dos que os anteriores, e que seja, de preferência, cheio de boas BDs!

2021-12-17

1º Mercado de BD e Ilustração: Fotos

O Tágide foi um dos agrupamentos que estrearam a iniciativa 1º Mercado de BD e Ilustração Museu Bordalo Pinheiro no passado fim-de-semana, a convite da organização do museu e da EGEAC, num evento coordenado por Tiago Guerreiro. Entre uma vintena doutros grupos informais, ateliers e colectivos, destacam-se as associações Chili com Carne e Tentáculo, com quem o Tágide partilhou a sala vocacionada à banda desenhada, sendo a presença do colectivo representada por Daniel Maia e Susana Resende.



Para além das Outras Bandas disponíveis – de momento, só #2, 4 e 6 –, que são o título antológico publicado pelo colectivo, também as criações a solo dos membros do grupo estiveram em destaque, tais como os álbuns A Implosão de Mário André e Crónicas de Enerelis de Patrícia Costa, os baralhos de cartas ilustrados de Susana Resende, com foco na novidade Provérbios de Animais, e o caderno de esboços Skratchbook vol.1 de Nuno Dias. Adicionalmente, ainda estiveram em destaque prints de alta-qualidade, postais, stickers e até uma selecção de arte original.



A iniciativa revelou-se um formidável evento para divulgar a novos públicos o projecto Tágide e os seus autores, tendo também sido realizadas apresentações durante as tardes, as quais foram marcadas pela presença adicional dos autores José Bandeira e Yves Darbos.

Em suma, uma iniciativa para estreitar relações com outros artistas e chegar a novos leitores, que esperamos se repita por muitos anos. Parabéns ao Museu Bordalo Pinheiro e EGEAC pelo apoio aos sectores da arte sequencial e ilustração!


2021-12-15

7º Comic Con Portugal: Fotos

Os jovens autores Nuno Dias e Patrícia Costa, membros dinâmicos do col. Tágide, estiveram presentes pela primeira vez no 7º Comic Con Portugal, promovendo os seus trabalhos a solo, dividindo mesa no Artist Alley. O espaço, no deambulatório do Altice Arena, núcleo do evento, contou com diversos outros jovens talentos e também alguns autores profissionais, e revelou-se uma aposta ganhadora apesar das controversas insuficiências este ano e a notória ausência do público em comparação com edições anteriores.


A Patrícia Costa investiu na divulgação da saga Crónicas de Enerelis, sendo acompanhada pelo recorte do herói Eyren Caeli e os seus dois álbuns, Prelúdio e Sangue. Para além de diverso merchandize sobre esse projecto, a Patrícia realizou também comissões e autógrafos na hora para os visitantes.
Por outro lado, o
Nuno Dias, que se apoiou na vertente da cultura pop, teve disponível o seu primeiro caderno de esboços, Skratchbook, e vários prints de heróis populares, para além de dedicar a maior parte do seu esforço na criação de comissões.


No final, foi uma experiência incrível para ambos talentos, aproveitando ao máximo o que o evento ofereceu e decerto será para repetir., ao longo dos seus promissores percursos no mercado. Vejam mais fotos nas respectivas redes sociais.

2021-12-14

A Implosão em Alpiarça e Tomar: Fotos

O autor/editor estreante Mário André esteve em grande destaque na passada semana, na apresentação da sua novela gráfica A Implosão, adaptada do romance homónimo de Nuno Júdice, de 2013, em sessão tida no auditório da Biblioteca Municipal da cidade, com a presença da Exma. Sra Drª Sofia Sanfona, Presidente da Câmara Municipal, e também com o apoio dos dois autores Daniel Maia e Susana Resende, aqui na qualidade de pós-produtores da obra.

A apresentação foi acompanhada por mais de meia centena de pessoas, que depois fizeram fila para autógrafos durante 2h. O autor, que já havia lançado a edição no 32º Amadora BD, em finais de Outubro, seguiu depois para Tomar, onde repetiu esta apresentação no célebre Café Paraíso, onde foi aguardado por outra meia centena de leitores. A tiragem inicial d’A Implosão encontra-se agora tecnicamente esgotada e deverá ser reforçada no início de 2022, altura em que Mário retoma o circuito de apresentações da sua estreia editorial em álbum.






Os interessados em adquirir os últimos exemplares d’
A Implosão devem contactar o autor/editor na página de Kustom Rats.

2021-12-12

Tágide finalista no 18º Troféus Central Comics

O Tágide está novamente entre os finalistas do Troféus Central Comics, o prémio ao sector português da banda desenhada e cartoon onde os nomeados – e os vencedores – são definidos pelo próprio público leitor!


O 18º Troféus Central Comics realiza-se tarde este ano, mas agregou nas suas 15 categorias uma trintena de obras publicadas em 2020, entre as quais consta o fanzine Outras Bandas, que naquele ano editou os #2 (Fev.) e #3 (Nov.). O título está entre os candidatos ao prémio para Melhor Publicação Independente.
Também eleita nessa categoria está a antologia Virar a Página (Bicho Carpinteiro), coordenada por André Morgado, e onde intervieram vários autores associados ao colectivo
Daniel Maia, Henrique Gandum, Nuno Dias, Patrícia Costa e Sérgio Santos, tendo dali sido destacada a banda desenhada de Daniel Maia (des.) e Marco Fraga Silva (arg.), “Quim e Manecas dão cabo do Covid-19!”, indicada entre os nomeados a Melhor Obra Curta. Esta é a primeira nomeação para o escritor, mas a 10ª para Daniel, que venceu anteriormente nas categorias de Melhor Desenho Nacional (2006), Melhor Publicação Independente (2010) e Melhor Obra Curta (2018), para além de ter sido o editor doutras três BDs premiadas como Melhor Obra Curta (em 2007, 2010 e 2020).


Parabéns aos colegas do Tágide pelo esforço que levou a esta 2a nomeação do Outras Bandas no TCC, e também aos demais nomeados!

A votação final está em curso até dia 18 (Sáb.), no portal CentralComics. Não requer registo e garante voto em absoluto sigilo.


2021-12-10

Leituras Tágide 6 – Duas criaturas

As leituras Tágide regressam (ver aqui as criticas a Bouncer, X-Men: Elsewhen, Red Mother, Monsters e Fahrenheit 451) e hoje menciono duas publicações com alguns anos, que têm criaturas no centro das narrativas: falo do inovador indie Malus de Christopher Webster (Mmmnnnrrrg) e do clássico Beowulf revisto por Santiago Garcia e David Rubin (Ala dos Livros).

Provavelmente das mais bonitas produções da editora Mmmnnnrrrg, simples mas impactante, Malus foi criado pelo britânico Christopher Webster, autor de banda desenhada alternativa e também artista de storyboards no Reino Unido. Foi um dos primeiros autores ocidentais a trabalhar num título de manga semanal, o Comics Morning, com Mr.Pillow (Kodansha, 1993), e publicou também Ecco the Dolphin (Fleetway, 1995), Rockdrill (Deadline, 1995) e Frozen (Serpent’s Tail, 1997), e as séries auto-editadas Neversedge (1989), Malus (1995) e Wormwood (2001). Colaborou ainda na antologia It’s Dark in London, editada por Oscar Zarate.
Malus (2005) é a única compilação existente desta série e constituiu uma forte aposta da Mmmnnnrrg, sendo invulgarmente publicada em versão bilingue, com texto no original inglês mas tradução para português em rodapé, uma solução tentada em certas edições naquela época, não só para preservar a autenticidade da obra estrangeira como para ajudar ao comércio do título perante o insuficiente mercado de BD nacional.

Webster é um autor que desafia definições, tendo sido igualmente comparado a grandes nomes do sector alternativo, como David Mazzuchelli, Dean Ormstron, Paul Pope e Ted McKeever, e a astros do segmento comercial,
tais como Frank Miller, Jack Kirby ou Todd McFarlane. Esta peculiaridade está patente também na sua escrita, que orbita a acção dos comic-books mas de pé bem assente na sensibilidade indie. As suas páginas, de fortes manchas gráficas, nervosas e enérgicas, mantêm uma intensa verve plástica mas permitem em simultâneo uma aproximação à humanidade das personagens e das situações.
Em
Malus, temos uma óbvia mistura de temas, entre a aventura super-heróica do estilo Hulk da Marvel ou Destroy!, de Scott McCloud, e a ficção científica cyberpunk ao jeito de Akira, por exemplo. Mas a este cocktail de influências junta-se uma bem patente e inqualificável bizarria, que nos remete também para visionários como David Cronenberg ou Shinya Tsukamoto. Um delírio visual que teima em não facilitar a leitura enquanto eleva o género “Art Brut” ao caos narrativo dos melhores comix underground dos anos 90. A história, contada entre sequências de combate entre dois hercúleos mutantes, segue um grupo de homens escolhidos para experiências transhumanistas, que depois se revoltam contra a entidade que os tentou explorar. Uma premissa simples, que é, todavia, filtrada no estranho simbolismo e aparente criticismo da obra à sociedade corporativa e a “governos sombra.”


Há muito
que é deixado por definir em Malus. Muito que é aludido pelo autor e encoberto por mitologias modernas e por lugares-comum sociais, sendo entregue ao leitor a busca por fazer sentido da cacofonia de tópicos que são apresentados. Até o próprio título representa uma incógnita: malus significa “mau” em latin, ou maléfico, perverso, abjecto, nocivo; significa também, no jargão legal, a penalização de uma entidade corporativa para com um trabalhador cuja acção resulte em perdas para a companhia. Ambos os contextos reflectem bem a natureza da obra, mas a interpretação final compete apenas ao leitor e é-lhe deixada em aberto, tal como é também algo inconclusivo o desfecho da história. Uma BD para ler e reler com apreço.


Beowulf
merece destaque por vários motivos. Logo em primeiro lugar por ser a primeira publicação da nova editora Ala dos Livros, mais tarde revelada como um projecto de editores de 3ª geração, netos do saudoso escritor/editor Jorge Magalhães (1938-2018) e filhos da igualmente importante editora Maria José Pereira.
Publicado em meados de 2018,
Beowulf é um esplêndido livro-objecto, onde – à imagem das personalidades dos heróis e do próprio monstro(s) com que estes se digladiam – tudo é grande!... O álbum é grande (22x31’), é longo (200p), é pesado (capa cartonada e papel de miolo espesso), o título é garrafal, assim como é “estridente” a legendagem; o que, aliás, faz sentido, pois reflete da melhor forma os modos brutos e fanfarrões dos guerreiros vikings. Hoje, com trinta publicações realizadas em pouco mais de três anos, com a ressalva de seis dessas serem edições integrais e, portanto, conterem 4 álbuns regulares cada, está visto que a editora gosta de apostar em grande e, em especial, de fazer grandes edições. Como tal, não podiam ter escolhido melhor obra para abrir as hostilidades editoriais.

Beowulf
é uma adaptação fiel ao epónimo poema épico anglo-saxão por autor anónimo, uma peça cultural com mais de mil anos que influênciou inúmeros autores modernos, desde J.R.R. Tolkien a diversos filmes (e.g. Predador, Último Viking, fora adaptações directas), que narra a viagem e aventuras de Beowulf, um viril e poderoso herói escandinavo, que ajuda o rei dos Daneses a eliminar o monstruoso Grendel, uma criatura que há uma década assola e devora o povo, perante a impotência do regente.
Os autores, o escritor
Santiago García e desenhador David Rubín, cedem os seus talentos a uma versão ultra violenta mas devidamente épica do manuscrito, enquanto que simultaneamente quebram com as regras na adaptação de contos milenares como este. Aplicando uma hábil inventividade compositiva às pranchas, que quebra com a estrutura mais tradicional de planificação de páginas de BD, a versão de García & Rubín acaba, por contraste, por se identificar melhor com o estoicismo da narrativa original. O horror físico, a tensão de cortar à espada, a vertigem da acção tem aqui uma das melhores transcrições para um meio visual.
E tal como a planificação intrincada guia o leitor de um modo inovador
e criativo, também a cor tem um papel importante na obra, ao fazer uso das teorias da psicologia das cores por forma a potenciar as sensações que se deseja incutir no leitor. Não só os jorros de sangue são de um vermelho vibrante, que se impõe extraordinariamente nas vinhetas, como as demais cenas são coloridas adequadamente, com tons azuis estéreis nas gélidas planícies escandinavas ou ocres escuros no interior dos casebres, para além de amarelos enervantes para cenas de tensão e verdes obscuros em sequências de temor. Nada que não se tenha visto anteriormente noutras obras, mas que aqui é bem aplicado e contribui para tecer a epopeia nórdica.


Em suma, Beowulf tira o melhor proveito possível de oportunidades narrativas intrínsecas à arte sequencial. Por exemplo, o diluir da acção em diversas vinhetas que são acompanhadas por ilustrações de maior panorâmica e detalhe, não só enchem o olho, como transmitem uma visão rica dos momentos retratados. Esta exploração da natureza da narrativa visual ensaiada no álbum é sublinhada no final do livro, como que em epílogo, onde se acentua a progressão dos meios de contar histórias. Da tradição oral para a escrita e depois para diferentes modos de a difundir, a narrativa segue a vida deste mito até às últimas instâncias, passando pela própria impressão do livro até chegar às mãos do leitor. Este, à imagem doutros ouvintes do poema em tempos imemoriais, faz agora parte da história, e porventura há-de lhe “acrescentar um ponto...”

Boas leituras!