Para quem seguiu as BD de super-heróis norte-americanos na década de 1980, há um autor cujo nome certamente ainda hoje é lembrado: John Byrne. Dono de um traço que sintetiza os maneirismos dos gigantes Jack Kirby e Neal Adams num único estilo coerente, Byrne afirmou-se como uma influência imensa de todos os amantes e praticantes do género, enquanto desenhador e co-argumentista dos X-Men, onde, ao lado do argumentista Chris Claremont, desenvolveu histórias incontornáveis como Dias de um Futuro Esquecido ou A Saga da Fénix Negra. Lançado para o super-estrelato e desagradado com o tom dado por Claremont aos scripts dos X-Men, Byrne seguiria uma carreira a solo carregada de outros grandes sucessos em séries como Quarteto Fantástico, Tropa Alfa, Hulk, Vingadores e a reinvenção do Super-Homem em Man of Steel, entre outras.
Volvidos quarenta anos e já "reformado", eis que Byrne decide regressar ao universo que o firmou entre as lendas dos comic books numa fanfic onde reimagina os "seus" X-Men a partir de uma simples premissa: E se a Saga da Fénix Negra tivesse terminado de modo diferente? E se a Fénix não tivesse morrido como aconteceu no mítico X-Men #137? Eis então o ponto de partida para X-Men: Elsewhen, uma série de aventuras "imaginárias" em que Byrne pega novamente nos mutantes a partir desse ponto na sua história e segue uma nova rota. O resultado é estranhamente familiar para aqueles de nós que leram os X-Men de Byrne e Claremont, mas ao mesmo tempo surpreendentemente diferente, procurando, até ao momento, distanciar-se de referências diretas à cronologia ou aos anos 80 e evitando paralelismos com o que entretanto Claremont imaginou e escreveu para a equipa durante a década após a saída de Byrne do título dos mutantes.
Assim,
enquanto leitores, somos presenteados com novíssimas aventuras
protagonizadas por versões clássicas dos heróicos Professor X,
Ciclope, Jean Grey, Tempestade, Colossus, Noturno, Kitty Pride e
Wolverine, bem como novas adições como o enigmático Pablo Ascobar,
sem esquecer ameaças clássicas como os Sentinelas, Fénix Negra e
Magneto ou o retorno de personagens esquecidas como Jahf, um
diminuto alienígena que Byrne havia introduzido precisamente no
primeiro número dos X-Men que desenhou algures no final dos anos 70,
facto que certamente não lhe terá passado despercebido. Aparições
regulares de outras vedetas como Homem-Aranha, Vingadores, Quarteto
Fantástico, Surfista Prateado ou Namor ajudam a alicerçar esta
série no universo abrangente comum a essas outras figuras,
rejeitando um certo hermetismo que tomou conta da versão oficial
do(s) título(s) mutante(s) após a partida de John Byrne. Pelo meio,
brilha principalmente a beleza e a atenção ao pormenor do desenho a
lápis de Byrne que, do alto dos seus setenta anos, continua a
desenhar magistralmente histórias que, contra-corrente, não
procuram pregar ou subverter, mas simplesmente entreter.
Tratando-se
para todos os efeitos de um webcomic, o autor publica uma
prancha a lápis por dia, exceto aos fins-de-semana, num molde que
faz lembrar o das tiras diárias dos jornais. Até ao momento, já
foram publicados o equivalente a 19 números, sem aparente conclusão
no horizonte. A série está a ser realizada sem qualquer espécie de
fins lucrativos, podendo ser seguida e apreciada de graça no próprio
site de John Byrne AQUI.
-- Pedro Cruz
(A fase editorial dos X-Men que precede esta fan-fiction foi editada em Portugal nos álbuns Os Clássicos da Banda Desenhada: X-Men (Correio da Manhã/Devir/Panini) com as histórias "Segunda Génese", "Primeira Noite" e "Dias de um Futuro Esquecido", e em Heróis Marvel série II: X-Men - A Saga da Fénix Negra (Levoir))
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