A
série The Red Mother, escrita por Jeremy Haun e
com arte de Danny Luckert foi editada de Dezembro de 2019 a
Janeiro de 2021 pela editora americana BOOM! Studios. A série ganhou
destaque por ser indicada para possível adaptação para a TV,
quando a BOOM! Studios realizou acordo com a Netflix, mas eu descobri-a na minha recente acção de formação por recomendação
de uma aluna, e intrigou-me por ser um género literário que gosto:
histórias de horror e de suspense. Neste caso, as referências
populares a apontar-lhe seriam os filmes de culto
Rosemary's Baby e Suspiria, também com creepypastas
à mistura.
Em
The Red Mother, existe uma óbvia tentativa de criar novas
entidades sobrenaturais parecidas aos monstros de lendas urbanas,
como a própria Red Mother que é inspirada em Hades da mitologia
clássica, e o seu arauto cujo aspecto faz lembrar o Slenderman e os
Kaonashi de A Viagem de Chihiro. A protagonista, Daisy
McDonough, perde o namorado e um olho num assalto brutal e, enquanto
tenta recuperar a sua vida e recebe acompanhamento psicológico,
começa a ver estranhas visões com o olho prostético. Nessas visões
encontra a entidade ancestral Red Mother, que quer atravessar para o
nosso mundo...
E como qualquer bom conto de horror, a BD lida com processos de luto, tanto pelo companheiro que Daisy perdeu como pela sua desfiguração, e o que acaba por ser mais interessante é a construção do suspense que avança a narrativa, mais do que a essência da história. Isto porque a influência de cânones do género, colagem de ideias genéricas e recurso ao mais básico folclore tornam a história trivial. Certos aspectos, como o surgimento de um novo romance ou a exploração de um síndrome científico que pode explicar o fenómeno que Daisy está a viver, desaparecem de súbito e sem causar grande impacto no desfecho da BD, e o bom ritmo que a história levava até ao 10º número é estragado por um 3º acto apressado e evidente. Se não fosse pela conclusão previsível, a série podia vir a ser considerada uma obra de relevo em BDs de horror.
Felizmente,
a arte da BD compensa os aspectos óbvios do argumento, por usar uma
boa planificação de pranchas e aplicar as grelhas ao serviço do
ritmo da acção. Ora se usa esquema de nove vinhetas para acelerar a
narrativa, ora se prende o leitor com painéis panorâmicos e
cinematográficos. O desenho, pouco detalhado, é competente no
retratar das figuras e cenários, mas a coloração em especial, sem
ser grandiosa em efeitos ou em técnica, faz uso inteligente de uma
paleta de cor estratégica, que invoca psicologicamente no leitor as
sensações que as sequências procuram.
No
geral, trata-se de uma boa leitura para fãs deste género de horror.
-- Susana Resende