2021-02-28

Leituras Tágide 3 – The Red Mother

A série The Red Mother, escrita por Jeremy Haun e com arte de Danny Luckert foi editada de Dezembro de 2019 a Janeiro de 2021 pela editora americana BOOM! Studios. A série ganhou destaque por ser indicada para possível adaptação para a TV, quando a BOOM! Studios realizou acordo com a Netflix, mas eu descobri-a na minha recente acção de formação por recomendação de uma aluna, e intrigou-me por ser um género literário que gosto: histórias de horror e de suspense. Neste caso, as referências populares a apontar-lhe seriam os filmes de culto Rosemary's Baby e Suspiria, também com creepypastas à mistura.
Em The Red Mother, existe uma óbvia tentativa de criar novas entidades sobrenaturais parecidas aos monstros de lendas urbanas, como a própria Red Mother que é inspirada em Hades da mitologia clássica, e o seu arauto cujo aspecto faz lembrar o Slenderman e os Kaonashi de A Viagem de Chihiro. A protagonista, Daisy McDonough, perde o namorado e um olho num assalto brutal e, enquanto tenta recuperar a sua vida e recebe acompanhamento psicológico, começa a ver estranhas visões com o olho prostético. Nessas visões encontra a entidade ancestral Red Mother, que quer atravessar para o nosso mundo...

As BDs são composta por três secções narrativas: uma página de abertura, fantasmagórica, que se estende em arco ao longo da série e toma dimensão profética; um prólogo que serve de mote à acção; e a história daquele número em concreto. Este esquema ajuda ao suspense e à tensão, mas também informa o conceito de outras dimensões que a série constrói e aos portais entre elas.
E como qualquer bom conto de horror, a BD lida com processos de luto, tanto pelo companheiro que Daisy perdeu como pela sua desfiguração, e o que acaba por ser mais interessante é a construção do suspense que avança a narrativa, mais do que a essência da história. Isto porque a influência de cânones do género, colagem de ideias genéricas e recurso ao mais básico folclore tornam a história trivial. Certos aspectos, como o surgimento de um novo romance ou a exploração de um síndrome científico que pode explicar o fenómeno que Daisy está a viver, desaparecem de súbito e sem causar grande impacto no desfecho da BD, e o bom ritmo que a história levava até ao 10º número é estragado por um 3º acto apressado e evidente. Se não fosse pela conclusão previsível, a série podia vir a ser considerada uma obra de relevo em BDs de horror.

Felizmente, a arte da BD compensa os aspectos óbvios do argumento, por usar uma boa planificação de pranchas e aplicar as grelhas ao serviço do ritmo da acção. Ora se usa esquema de nove vinhetas para acelerar a narrativa, ora se prende o leitor com painéis panorâmicos e cinematográficos. O desenho, pouco detalhado, é competente no retratar das figuras e cenários, mas a coloração em especial, sem ser grandiosa em efeitos ou em técnica, faz uso inteligente de uma paleta de cor estratégica, que invoca psicologicamente no leitor as sensações que as sequências procuram.
No geral, trata-se de uma boa leitura para fãs deste género de horror.

 -- Susana Resende

2021-02-27

Leituras Tágide 2 – X-Men: Elsewhen

Para quem seguiu as BD de super-heróis norte-americanos na década de 1980, há um autor cujo nome certamente ainda hoje é lembrado: John Byrne. Dono de um traço que sintetiza os maneirismos dos gigantes Jack Kirby e Neal Adams num único estilo coerente, Byrne afirmou-se como uma influência imensa de todos os amantes e praticantes do género, enquanto desenhador e co-argumentista dos X-Men, onde, ao lado do argumentista Chris Claremont, desenvolveu histórias incontornáveis como Dias de um Futuro Esquecido ou A Saga da Fénix Negra. Lançado para o super-estrelato e desagradado com o tom dado por Claremont aos scripts dos X-Men, Byrne seguiria uma carreira a solo carregada de outros grandes sucessos em séries como Quarteto Fantástico, Tropa Alfa, Hulk, Vingadores e a reinvenção do Super-Homem em Man of Steel, entre outras.

Volvidos quarenta anos e já "reformado", eis que Byrne decide regressar ao universo que o firmou entre as lendas dos comic books numa fanfic onde reimagina os "seus" X-Men a partir de uma simples premissa: E se a Saga da Fénix Negra tivesse terminado de modo diferente? E se a Fénix não tivesse morrido como aconteceu no mítico X-Men #137? Eis então o ponto de partida para X-Men: Elsewhen, uma série de aventuras "imaginárias" em que Byrne pega novamente nos mutantes a partir desse ponto na sua história e segue uma nova rota. O resultado é estranhamente familiar para aqueles de nós que leram os X-Men de Byrne e Claremont, mas ao mesmo tempo surpreendentemente diferente, procurando, até ao momento, distanciar-se de referências diretas à cronologia ou aos anos 80 e evitando paralelismos com o que entretanto Claremont imaginou e escreveu para a equipa durante a década após a saída de Byrne do título dos mutantes.


Assim, enquanto leitores, somos presenteados com novíssimas aventuras protagonizadas por versões clássicas dos heróicos Professor X, Ciclope, Jean Grey, Tempestade, Colossus, Noturno, Kitty Pride e Wolverine, bem como novas adições como o enigmático Pablo Ascobar, sem esquecer ameaças clássicas como os Sentinelas, Fénix Negra e Magneto ou o retorno de personagens esquecidas como Jahf, um diminuto alienígena que Byrne havia introduzido precisamente no primeiro número dos X-Men que desenhou algures no final dos anos 70, facto que certamente não lhe terá passado despercebido. Aparições regulares de outras vedetas como Homem-Aranha, Vingadores, Quarteto Fantástico, Surfista Prateado ou Namor ajudam a alicerçar esta série no universo abrangente comum a essas outras figuras, rejeitando um certo hermetismo que tomou conta da versão oficial do(s) título(s) mutante(s) após a partida de John Byrne. Pelo meio, brilha principalmente a beleza e a atenção ao pormenor do desenho a lápis de Byrne que, do alto dos seus setenta anos, continua a desenhar magistralmente histórias que, contra-corrente, não procuram pregar ou subverter, mas simplesmente entreter.
 

Tratando-se para todos os efeitos de um webcomic, o autor publica uma prancha a lápis por dia, exceto aos fins-de-semana, num molde que faz lembrar o das tiras diárias dos jornais. Até ao momento, já foram publicados o equivalente a 19 números, sem aparente conclusão no horizonte. A série está a ser realizada sem qualquer espécie de fins lucrativos, podendo ser seguida e apreciada de graça no próprio site de John Byrne AQUI.
 
-- Pedro Cruz 
 
(A fase editorial dos X-Men que precede esta fan-fiction foi editada em Portugal nos álbuns Os Clássicos da Banda Desenhada: X-Men (Correio da Manhã/Devir/Panini) com as histórias "Segunda Génese", "Primeira Noite" e "Dias de um Futuro Esquecido", e em Heróis Marvel série II: X-Men - A Saga da Fénix Negra (Levoir))

2021-02-24

Outras Bandas #4 [Tágide]

O colectivo informal Tágide inicia actividade editorial em 2021 com Outras Bandas #4, um número especialmente dedicado à publicação de colegas do grupo que ainda não haviam (na grande maioria) contribuído para o fanzine.
Entre diversas bandas desenhadas curtas e também galerias de ilustração, esta antologia incluí trabalhos de teor melancólico e dramático por
Henrique Gandum, João Raz e Susana Resende, e outros de humor e sátira por Jorge RoD! Rodrigues e José Bandeira. E por último mas não de somenos, conta ainda com obras fantasiosas e míticas por artistas mais recém-chegados ao sector: Nuno Dias, Rui Serra e Moura, Tiago Martins – com um argumento desenhado por Daniel Maia – e Yves Darbos, também autor da ilustração de capa/contracapa deste número.

Enquanto que o mercado de BD nacional desperta do estupor, ainda fragilizado pela ausência de eventos e feiras, e limitado no acesso a livrarias, o colectivo Tágide, procura manter activa a produção independente no sector. Para tal, anunciou nos últimos meses o seu plano editorial para o presente ano, que inclui três novos números por semestre, assim como irá apoiar os esforços promocionais das publicações autorais dos seus membros, que anunciaram novas edições no prelo (e.g. Daniel Maia, Henrique Gandum, Mário André, Patrícia Costa, Pedro Cruz e Sérgio Santos, entre outros).


Outras Bandas #4
(Tágide)
Autores: Daniel Maia, Henrique Gandum, João Raz, Jorge Rodrigues, José Bandeira,
Nuno Dias, Rui Serra e Moura, Susana Resende, Tiago Martins e Yves Darbos
Ilustração de Capa/Contracapa: Yves Darbos
Edição/Produção: Daniel Maia e Eduardo Martins
Fanzine de BD/Ilustração | 40p | Impressão a Preto/Branco
1ª Edição: Fevereiro de 2020 | 100 exemplares | PVP 2,00€

2021-02-18

Diário Gráfico de João Raz

O autor João Raz tem aproveitado o novo confinamento para deixar de lado as artes digitais e regressar às raízes com novos trabalhos a grafite.


Esta selecção de desenhos vêm do seu diário gráfico, onde o João treina rostos, poses, ideias soltas, para depois aplicar à criação de BDs, sejam estas ambientadas em contextos medievais ou ficção especulativa.

O autor, que participa no iminente Outras Bandas #4 com uma nova banda desenhada curta, desenvolve actualmente a sua primeira novela gráfica, que será a segunda publicação autoral após Outros Mundos, de 2013, no qual compilou diversas ilustrações fantásticas.



2021-02-12

Patrícia Costa em Exposição e Entrevista

Apesar do presente período de confinamento que o país observa, a Câmara Municipal de Montijo inaugura a 19 de Fevereiro a mostra Enerelis: A Criação de um Mundo, que apresenta o álbum de estreia da autora Patrícia Costa, a qual foi formada em banda desenhada no 1º curso Iniciação à Arte Sequencial, em 2018, promovido pelo município e leccionado por Susana Resende. A exposição, que arranca com uma visita virtual, ficará patente no Museu Municipal – Casa Mora até 24 d Abril 2021 e será aberta ao público assim que for decretada a reabertura dos equipamentos culturais.

A mostra, alusiva ao álbum juvenil Prelúdio, inclui as primeiras pranchas artesanais pela artista e impressões das seguintes, produzidas em recurso digital, bem como expõe diversos estudos, arte conceptual de personagens e mapas geográficos do mundo mágico de Enerelis. A edição ficará disponível para aquisição pelo grande público em meados de Março.

Paralelamente, a edição de Fevereiro da revista Montijo Hoje inclurá uma entrevista à Patrícia, alusiva ao seu novo projecto.

2021-02-10

Tágide: Heróis Portugueses XX

Após seis meses de iniciativa, Heróis Portugueses entra na recta final, tendo ultrapassado a marca dos 3/4s do projecto! A diligência dos autores reuniu já mais de 75 das mais míticas personagens da BD portuguesa e prepara os próximos dez desenhos, entrando na recta final do desafio.
Esta semana celebrámos os heróis: Roques & Folque (ilustrado por Patrícia Costa), criados em 1989 pela dupla Tozé Simões (argumento) e Luís Louro (desenho), são o trio protagonista desta colecção composta pelos álbuns O Império das Almas, e A Herança dos Templários I (1991) e II (1992), publicada pela editora Asa. Dom Afonso Henriques (ilustrado por Yves Darbos), o primeiro rei de Portugal e também protagonista de vários álbuns de banda desenhada, conta entre as suas adaptações A Balada da Conquista de Lisboa, por Raul Correia (argumento) e E.T.Coelho (desenho), na revista O Mosquito #749-941, entre 1946-1948; mais tarde, compilado em álbum pela Época de Ouro, em 1996. Outras breves narrativas foram produzidas por Vítor Peon (Mundo de Aventuras #177-196, em 1953), por José Baptista (Colecção Audácia #611, em 1957), por José Ruy (Os Lusíadas vol.1, em 1983), por Pedro Massano (A Conquista de Lisboa vol1, em 1997, e vol.2, em 2003), por Oliveira Marques (arg.) e Filipe Abranches (des.) (História de Lisboa vol1, em 1998), por A. Carmo dos Reis (arg.) e José Garcês (des.) (História de Portugal em BD vol1, em 2003), por Manuel Chagas (arg.) e Artur Correia (des.) (História Alegre de Portugal vol1, em 2008), e António Gomes de Almeida (arg.) e Artur Correia (des.) (Super-heróis da História de Portugal, em 2004), entre outros autores. Os principais trabalhos com a figura histórica foram expostos na colectiva “Dom Afonso Henriques na Banda Desenhada,” promovida pelo GICAV, C.M.Viseu e IPJ, entre Agosto-Setembro de 2017, onde foi reeditado D. Afonso Henriques - Balada da Conquista de Lisboa.


Tomahawk Tom
(ilustrado por Eduardo Martins) foi criado por Edgar Cayill aka Roussado Pinto (argumento) e Vitor Péon (desenho) em 1950 para a revista Mundo de Aventuras #62-105. O herói saltou também para outras edições, como Colecção Condor, Colecção Audácia e Jornal do Cuto, bem como mereceu publicação no mercado francófono. As aventuras foram compiladas nos álbuns O Regresso de Tomahawk Tom, em edição de autor (1975), e Tomahawk Tom – O Espírito de Manitu, na colecção Antologia da BD Portuguesa vol.18, pela editora Futura (1987). E por fim, Lady Blitz aka Corina Liechenstein (ilustrada por Daniel Maia), uma top model e espiã que se estreia no álbum Homem de Neanderthal, editado pela Asa Edições, em 1991. A antagonista ganhou preponderância e mereceu duas edições do fanzine Lady Blitz Fan-Club entre 1995-96, regressando depois em Os Deuses de Altair 1, pela Baleiazul, em 1998, e na BD curta "Corina Alpina Bonina", em 2003, na antologia Vasco Granja: Uma vida, 1000 imagens, da Asa Edições.


2021-02-06

Susana Resende produz Comissões

A ilustradora e autora de banda desenhada Susana Resende, também conhecida pelas suas formações na área, lançou no ano passado a sua primeira lista oficial de comissões privadas. Embora a artista tenha percurso anterior na produção de trabalhos personalizados, promoveu a preços acessíveis uma lista dedicada a Retratos de Animais de Estimação, apontada para o natal e limitada a 5 vagas.



Para sua surpresa, a lotação foi esgotada dentro da primeira semana do anúncio, tendo a Susana aceite uns pedidos extra para a quadra – Parabéns! Os trabalhos centraram-se em cães e gatos, realizados em técnica mista, consistindo em aguarelas e detalhes a lápis de cor, cujas artes têm sido destacadas no blog da artista; para mais fotos das ilustrações e desenhos em produção, visitem a etiqueta Comissões.

2021-02-04

Tágide: Novas reuniões virtuais

Desde Agosto passado, com o aperto das condições para encontros sociais, os encontros mensais do colectivo Tágide tiveram de cessar definitivamente, passando apenas para reuniões virtuais. Realizando em Janeiro o 6º encontro digital, o grupo tem mantido assim contacto e partilhado as suas novidades autorais, assim como discutido as iniciativas que o colectivo informal continua a desenvolver. Aqui ficam algumas fotos das animadas conversas...

2021-02-02

Leituras Tágide 1 - Bouncer

Se gostas de faroestes, então devias de ler Bouncer. Especialmente quando é algo vindo da mente de Jodorowsky e desenhado por Boucq. Esta edição, uma compilação adaptada para inglês pela Humanoids, inclui os primeiros 7 volumes da série, mas não deixes que isso te afaste deste excelente livro, porque se assim for estarás a perder uma ótima história e arte, e um livro muito bem construído.
Tendo em conta os anos que já passaram desde o início da série (em 2001) e tudo o que entretanto já foi escrito, Bouncer aguentas-se bem, muito bem. Com vestígios de clássicos da literatura e onde a ação está ao virar de cada página, o único problema com que nos deparamos é ser demasiado curto, pois 400 páginas não chegam. Queremos muito mais do atirador exímio de apenas um braço!

Embora existam 11 volumes na colecção Bouncer, os direitos dos últimos 4 pertencem à editora Glénat, e por isso não fazem parte deste livro, pela editora original. Todavia, não há qualquer problema com isso, porque a história aqui contida tem um começo e um fim, e por isso não perdes nada face ao que vem a seguir. A edição inclui um posfácio de Claude Ecken (um prolífico e premiado escritor de ficção e crime) que adiciona outra camada à história e apresenta uma visão mais profunda dos artistas e do trabalho feito por eles, incluindo este
Bouncer.


Como é visível, não posso recomendar mais esta leitura, mas atenção que sou um grande fã de Jodorowsky e por isso sou “suspeito.” Jodorowsky é também a mente por detrás de Metabarons, uma excelete história que devia, para já. de dispensar apresentações, e assim será. Boucq é um artista incrível: as paisagens são excelentes e as cenas de ação com diferentes ângulos são de primeira qualidade.

A Humanoids é uma editora a ter debaixo de olho porque tem material incrível e edições limitadas que, quando esgotam, esgotam. Pelo que, quando houver dúvidas, elas devem ser ignoradas e simplesmente adquirir o livro, porque o mercado de 2ª mão não é brando, nada brando mesmo, mesmo, mesmo!...

--GxVault


(A série Bouncer foi publicada em Portugal pela Asa Edições II, de 2002 a 2012, e retomada pela Arte de Autor em 2018, em volumes dípticos, com dois tomos por edição)