2022-10-26

Quaresma, o Decifrador vol.1 – Nova crítica

Na sequência das anteriores críticas a este volume inaugural da colecção Quaresma, o Decifrador, em que Mário André adapta à banda desenhada as centenárias novelas policiais de Fernando Pessoa, surge a análise de Hugo Pinto, no blog Vinheta2020...

Hugo Pinto, em Vinheta2020:
Depois de, no ano passado, publicar A Implosão, uma adaptação para banda desenhada da obra de Nuno Júdice, Mário André depressa regressou ao lançamento de banda desenhada. No passado mês de Maio, o autor arrancou com um novo projeto que procura adaptar para bd os contos policiais da autoria de Fernando Pessoa. Desde então, o ritmo de produção de Mário André tem sido muito fértil porque na altura em que vos escrevo este texto, o autor independente prepara-se para publicar no Amadora BD o seu segundo livro desta colecção (…).

Este primeiro livro da coleção dedicada a estes contos policiais, intitula-se O Caso do Quarto Fechado e traz-nos a personagem do Dr. Abílio Quaresma que é um verdadeiro mestre da investigação. Não se tratando de um investigador ou detetive, propriamente dito, Quaresma é um decifrador por talento nato e vocação natural, conseguindo olhar para os factos e eventos de forma analítica e perspicaz, como faria um Sherlock Holmes ou um Hercule Poirot. (...)

Nesta situação concreta, é chamado a analisar um caso que, embora pareça de fácil resolução, está envolto em mistério e pode ser uma daquelas situações em que as aparências enganam. Uma pessoa é encontrada morta e tudo leva a crer que se trata de um suicídio. Mas a causa da sua morte parece ser a degolação, o que seria difícil de executar. E, ainda para mais, junta-se à equação o facto da vítima ter uma personalidade que em nada levaria a crer que alguma vez pudesse recorrer ao suicídio. E isto já para não mencionar que a vítima foi encontrada num quarto fechado por dentro.
Já têm a cabeça a andar à roda? É natural, pois o mistério é desafiante e muito interessante de ver resolvido à medida que vamos lendo este livro. O que me leva a considerar que o mesmo tem um belo argumento.


Comparando esta obra com A Implosão, onde eram (mais) notórias as fragilidades de Mário André enquanto autor, parece-me facilmente visível que o autor evoluiu bastante desse livro para este.

É lógico que, especialmente na componente visual, ainda encontramos neste O Caso do Quarto Fechado, desenhos bastante arcaicos na sua conceção, que parecem ter sido feitos à primeira tentativa, sem que haja uma elaboração aprumada ou estudos de fundo desenvolvidos pelo autor. Por vezes, as expressões faciais das personagens, bem como a sua linguagem corporal, são demasiadamente amadoras, fazendo parecer que os desenhos foram feitos por uma criança. Outro problema que persiste é que certas personagens parecem apresentar feições e expressões diferentes de vinheta para vinheta, fazendo com que o natural ritmo e encadeamento da leitura seja posto em causa, por vezes.

Não obstante, e mesmo tendo presente que, em várias ocasiões, me pareceu que o texto era um pouco excessivo, este é um livro manifestamente melhor que
A Implosão. A leitura é mais fácil, o argumento é muito mais conciso e bem explanado, e as ilustrações do autor, quiçá amadoras, parecem demonstrar um autor que tem vindo a evoluir gradualmente. Nota positiva, ainda, para como o autor tenta dar frescura à leitura, através de uma planificação diversificada e com algum dinamismo.


Em termos de edição, partindo do pressuposto que estamos perante uma edição de autor, posso dizer que o livro, em capa mole baça, tem um aspeto bastante aceitável.

Concluindo, julgo ser justo dizer que Mário André está de parabéns pela aposta inteligente de trazer estes contos policiais esquecidos de Fernando Pessoa para a banda desenhada. É lógico que em termos de componente visual, ainda é uma obra algo pobre e amadora a vários níveis, mas que, não obstante, marca uma evolução positiva do autor face ao anterior A Implosão.”

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