2022-11-24

Aurora Boreal em Reflexos Partilhados – Crítica

A antologia Aurora Boreal em Reflexos Partilhados, coeditada pela Kafre, do escritor José de Matos-Cruz, e Arga Warga, do autor Daniel Maia, lançada em Maio no FIBDB e com trabalhos de João Raz, José Bandeira, Nuno Dias e Susana Resende, entre outros, recebeu duas críticas no sector, sendo a primeira uma resenha breve do portal BandasDesenhadas e a última uma análise a fundo pelo blogue Vinheta2020. Aqui ficam alguns excertos:

SF, em BandasDesenhadas:

Estas bandas desenhadas curtas dedicadas à Aurora Boreal, realizadas a diversas mãos, apresentam registos muito díspares. Contudo, é uma leitura que vale a pena realizar!”

Hugo Pinto, em Vinheta2020:
Devo admitir que o alcance das histórias deste livro me surpreendeu. E quando digo que me surpreendeu não tem de ser, forçosamente, uma coisa positiva nem negativa. Surpreendeu-me pois não conhecia todo o envolvimento em torno da personagem de Aurora Boreal. E talvez por esse motivo, fiquei quase atordoado com toda a viagem onírica que esta personagem transporta consigo e que está bem patente nas várias histórias que constituem esta antologia.
Dito por outras palavras, se esperam encontrar uma leitura simples e leve, como é, muitas vezes, apanágio das antologias de banda desenhada, Aurora Boreal em Reflexos Partilhados não será para vós. Por outro lado, se apreciam poesia, questões do metafísico e banda desenhada… é bem provável que devam conhecer esta antologia.

A personagem que dá mote a estas histórias foi criada em 2012 por José de Matos-Cruz e apareceu na sua trilogia de livros dedicados a O Infante Portugal. É uma figura feminina e sensual, carregada de elementos cósmicos, que a fazem parecer uma deusa do imaginário.
Não diria que exista nestas histórias uma linha narrativa que nos conte uma história concreta à volta da personagem. Ao invés, vão-nos sendo dado abordagens diferentes que colocam Aurora Boreal em variadas situações. Mas há sempre um toque de fantástico, de exótico e de transcendente nestas histórias.

Em muitos casos – não há como não – o leitor acaba por se perder na própria premissa, já que a mesma é demasiado lata e abstrata. No entanto, por vezes também sabe bem deixarmo-nos levar por narrativas mais psicadélicas. É o caso.
O estilo de ilustração que aqui podemos encontrar é expetavelmente muito variado, dada a quantidade de autores que participam na antologia.
Destacam-se o belo estilo de sketch a carvão de Susana Resende, o estilo realista de Daniel Maia, o estilo mais clássico de José Ruy, ou a abordagem mais estilizada e abstrata de Renato Abreu.
Como história, propriamente dita, fiquei agradavelmente surpreendido com “Aurora Boreal e o Reverso do Universo,” com desenho de José Macedo Bandeira, que nos dá um belo conto ambientado na temática de Fernando Pessoa.

Já quanto aos desenhos, enquanto confesso fã das ilustrações de Daniel Maia, posso dizer que as mesmas não desiludem e que revelam como o autor é virtuoso na execução de belos desenhos. Além disso, também tem a capacidade para ilustrar vários tipos de ambientes e histórias diferentes, o que revela que é um autor com um potencial enorme, ainda por explorar.

Em termos de edição, tendo em conta que é independente, parece-me que o trabalho é bastante decente. Este livro a preto e branco tem capa mole e um papel brilhante que me parece adequado. Acho apenas que deveria ter sido feita uma maior divisão entre histórias, uma vez que, por vezes, ainda estamos mergulhados numa história e já o conto seguinte começou. Julgo que mesmo que não fosse dada uma página branca entre histórias, ao menos poderia ter sido feita uma divisão gráfica mais inequívoca.

Em suma, Aurora Boreal em Reflexos Partilhados, pelo universo alegórico-fantástico que traz consigo, é uma antologia bastante original na sua génese. Nem sempre de fácil de leitura, relembro, mas audaz nos intuitos de significados profundos que procura atingir.”

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