A
novela gráfica A Implosão, adaptada por Mário André da novela de
Nuno Júdice, é das edições independentes que maior surpresa gerou
no 32º Amadora BD, tendo vendido metade da tiragem disponível
durante o evento e reunido forte presença na sessão de lançamento
e em autógrafos.
Após
o destaque no TágideBD, seguido por menções no
BandasDesenhadas, Vinheta2020 e no Alpiarcense, o álbum também
mereceu uma apreciação literária nas redes sociais por parte do autor Penim
Loureiro, que aqui repetimos:
A
produção de banda desenhada e fanzines do autor é jovem mas
carrega uma bagagem com várias dezenas de anos. A sua obra
distingue-se pela singularidade desconcertante, pelo absoluto desdém
das convenções da BD actual. O autor está-se nas tintas para o bom
senso. Desenha por instinto, contando histórias viscerais e
revelando um gozo ao fazê-las que é um regalo de se observar.
Esta
BD é contada por um apaixonado clandestino, um traidor viúvo e um
homem com cabeça de Lenine que, seguindo o romance homónimo de Nuno
Júdice, publicado em 2012, se reencontram após regressarem de uma
manifestação contra a Troika. Irão confrontar-se no interior de
uma decrépita igreja e velar um caixão, incertos de quem lá
repousa ou o que este pode esconder. O tom metafórico é uma
constante e o caixão é usado como refrão.
A
arte de Mário André pode ser confundida com um registo naïf, mas
este não é ingénuo. A sua entrega é feita em nome da
espontaneidade. O tom é consistentemente libertário, a sua pele é
o panfleto e, quando se entrega a uma narrativa, esta é feito de um
só jorro, aparentemente sem receios das suas limitações gráficas.
Os
desenhos d’A Implosão são resultado das vivências clandestinas,
que sob o efeito dos tempos surgem tão seguras como absurdas. O seu
autor convence-nos, no início, da sua posição purista, seguro de
qual o lado certo e o errado, concluindo no final que ambas as partes
são controlados. Acima de tudo trata-se de uma BD onde Mário André
se recusa a ser encaixotado.
2021-11-15
A Implosão, de Mário André – Crítica
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